Leonardo Soares
Aluno da pós-graduação na Plenitude Educação
@leosoaresnutri
Para ficar mais claro o entendimento, vamos explicar rapidamente, e de forma simples, esses dois conceitos: hipertireodismo e hipertrofia muscular.
O hipertireodismo é um estado hipermetabólico onde acontece a produção exacerbada dos hormônios tireoidianos, então teremos um excesso desses hormônios e um aumento na demanda energética, principalmente glicose. Já a hipertrofia muscular é caracterizada pelo aumento do tecido muscular, então é uma condição onde acontece o ganho de tecido por conta de uma adaptação estrutural.
A tireoide exerce um importante papel na musculatura. Por exemplo, na composição da cadeia de miosina, no metabolismo de proteína (construção e destruição), proteínas miofibrilares e proteínas reguladoras de cálcio (importantes para contração muscular) e no metabolismo energético.
Esse metabolismo das proteínas parece estar mais relacionado ainda com a taxa de destruição de proteínas (degradação) e pouca, nenhuma ou até mesmo alta função na construção proteica (síntese), fazendo com que o indivíduo tenha um quadro de sarcopenia, que nada mais é que a perda de tecido muscular.
Pessoas que apresentam hipertireoidismo parecem sofrer de uma disfunção muscular (perda de força), fadiga e tremores (Bousquet-Santos K 2006). Isso foi visto em um trabalho que separou um grupo com hipertireoidismo visível e outro com hipertireoidismo subclínico (em sintomas).
Quando os níveis hormonais dos hormônios tireoidianos foram ajustados para normalidade (eutireoidismo), foi visto um aumento de força nos grupos estudados.
Esse fato apresenta uma significância importante, principalmente porque só é possível construir massa muscular através de um estimulo de tensão com cargas. Logo, se a pessoa perde a capacidade de contração muscular, é esperado que ela também perca capacidade de gerar essa tensão no músculo. Mas parece que treinos de resistência com cargas (musculação) podem ser eficazes em aumentar a força muscular.
Um artigo mostrou que algumas pessoas tireotóxicas (excesso de hormônios tireoidianos) apresentam uma redução geral de força em 30-40%, e redução na massa muscular em 25-27%. Os participantes que fizeram apenas o treino de força, durante sete semanas, e não trataram o hipertireodismo, tiveram um aumento no músculo de 4%, enquanto o grupo que controlou os hormônios tireoidianos teve um aumento de 23%.
Outro trabalho com dois grupos de participantes em tratamento médico de hipertireodismo, só que um grupo fazendo treinos de resistência e outro não, viu que o grupo que não fez os treinos obteve um aumento de 27% do aumento de força muscular, apenas com o tratamento médico. Só que o grupo que participou dos treinos, teve um aumento de 41%.
Também teve um estudo que observou que a força muscular retorna, em torno de 50-100%, após o tratamento, enquanto que o volume muscular aumenta em torno de 25%. Além disso, essas anormalidades em nível muscular podem se manter persistentes após 5-9 meses do tratamento médico5.
Outro ponto interessante é que os participantes aumentaram não só a força, mas também a resistência ao exercício. E quando estamos falando de aumento de tecido muscular, a resistência parece exercer um papel mais relevante do que a força em si.
Além disso, pessoas com hipertireodismo apresentam uma redução de carnitina muscular, provavelmente por uma regulação positiva da enzima carnitina palmitoil-transferase-1 (CPT-1), que é regulada justamente pela tireoide. Isso causará um aumento na conversão da acilcarnitina, a partir da carnitina, e essa acilcarnitina é preferencialmente excretada.
Além da resistência hepática à insulina, presente no hipertireodismo, parece que o músculo também apresenta a mesma resistência. E a via glicolítica dependente de glicose é uma via extremamente anabólica, mas se o músculo não responde a essa insulina, a glicose acaba não entrando no tecido muscular.
Mas isso ainda é um dado a se discutir, já que outros estudos (a maioria em ratos) viram o efeito oposto. Uma das possíveis explicações para esse fato é o aumento da gliconeogênese (formação da glicose a partir de outro substrato que não é a glicose) pelo fígado para atender a maior demanda de glicose.
Entretanto, também temos dados sugerindo que no hipertireodismo, por mais que entre a glicose no músculo, o corpo acaba preferindo fazer a via de formação do lactato, em vez de fazer a via oxidativa da glicose. A via do lactato é uma via alternativa utilizada na falta de oxigênio, nesse caso, a via de utilização da glicose é inibida e abre espaço para essa outra.
Por conta da maior demanda de glicose e dessa menor taxa de oxidação, o corpo acaba aumentando a proteólise (quebra de proteínas) para ofertar substratos ao fígado para gerar glicose, causando um estado catabólico (perda de tecido muscular).
Além da redução do tamanho das fibras musculares e comprometimento de todo o mecanismo muscular, o hipertireodismo parece aumentar a peroxidação lipídica na mitocôndria, que é onde produzimos energia para o músculo. Isso vai causar a redução da capacidade respiratória do indivíduo e interferir de forma negativa no transporte de cálcio.
Talvez você esteja habituado a ouvir que o cálcio só está ligado a saúde óssea, mas na verdade ele participa também da contração muscular. Então a complicação no seu transporte, em pessoas com hipertireodismo, está ligado com arritmias cardíacas, reduzindo a capacidade funcional do tecido muscular cardíaco e do tecido muscular estriado, que são os músculos que você usa na sala de musculação.
Sendo assim, o hipertireodismo pode impactar negativamente na saúde muscular e estética de uma pessoa.
Considerações finais
Tendo em vista todos os dados apresentados, isso se mostra ainda mais preocupante em pessoas mais velhas. Já que a perda de massa muscular é algo esperado no processo de envelhecimento. É natural que percamos 1% de tecido muscular ao ano, após os 30 anos. Caso um indivíduo tenha hipertireodismo e não faça o tratamento adequado, a tendência é que essa porcentagem seja maior e acarrete em prejuízos a saúde.
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