Caroline Modolo
Aluna da pós-graduação de Nutrição Esportiva e Estética
@nutricarolmodolo
A biotina (vitamina B7) é uma vitamina solúvel em água necessária para várias reações participando do metabolismo de gorduras, carboidratos e proteínas. É uma pequena molécula com capacidade de se ligar a várias moléculas (biotinilação) com alterações mínimas nas propriedades funcionais ou antigênicas. A estreptavidina e, em menor grau, a avidina se ligam de forma não covalente à biotina com afinidade particularmente forte, e a durabilidade dessa interação é explorada em técnicas de laboratório, como as técnicas Western blot, citometria de fluxo, imuno-histoquímica e imunoensaios. Em imunoensaios, a biotina geralmente constrói a ligação entre o anticorpo e a estreptavidina.
A biotina não pode ser sintetizada pelo nosso organismo, e, portanto, é essencial na nossa alimentação. Ela está prontamente disponível e completamente absorvida a partir de uma ampla variedade de alimentos à base de plantas, como aveia e nozes, e animais, como ovo e fígado, com uma minoria fornecida pela síntese bacteriana intestinal, sendo bem rara sua deficiência em uma dieta quando a ingestão calórica é suficiente, considerada adequada a ingestão de 0,03 mg/dia. Porém os médicos também podem recomendar níveis elevados de biotina de até 300 mg/dia para pacientes com certas condições, como a esclerose múltipla.
Apesar de ser rara a sua deficiência, ainda assim a biotina é comumente encontrada em suplementos multivitamínicos e em suplementos ilusoriamente comercializados como uma “pílula de beleza” prometendo um maior crescimento de cabelo, barba e unhas e uma pele mais bonita, mesmo com falta de evidências de sua eficácia para tal finalidade. O que por falta de informação acaba induzindo consumidores ao erro com um estímulo apelativo através de propagandas com “influenciadores” para colocar a biotina em “alta” e disseminar o seu uso de forma indiscriminada, fazendo com que seu consumo em uma quantidade muito maior do que a recomendação diária seja banalizado. Sendo comumente encontrada em doses de até 650 vezes maior que sua ingestão diária recomendada.
E juntamente com essa crescente popularidade da biotina, a sua interferência em exames laboratoriais também aumentou pela quantidade de biotina exógena consumida pela população, já que muitos testes de laboratório usam a tecnologia de biotina devido à sua capacidade de se ligar a proteínas específicas que podem ser medidas para detectar certas condições de saúde. Por exemplo, a biotina é usada em testes hormonais e testes para marcadores de saúde cardíaca como a troponina. Todos os ensaios que utilizam a interação biotina-estreptavidina podem ser afetados por qualquer quantidade de biotina exógena.
Em novembro de 2019 a Food and Drug Administration (FDA), que se assemelha ao que para o Brasil é a Anvisa, fez uma atualização em seu comunicado de segurança, que já havia sido feito em 2017, com o intuito de lembrar e conscientizar o público, profissionais de saúde, de laboratório e desenvolvedores de testes de laboratório, reafirmando seu poder de interferir significativamente em certos testes de laboratório e causar erros nos resultados que poderiam passar despercebidos. Podendo causar resultados falsamente altos ou falsamente baixos, dependendo do tipo de teste. Desde seu comunicado em 2017, alguns desenvolvedores de teste de laboratórios foram bem-sucedidos em diminuir a ocorrência dessa interferência nos resultados de exames, mesmo que outros ainda não houvessem abordado.
Porém, nessa atualização em seu comunicado de segurança em 2019, a FDA também publicou uma página da web Biotin Interference with Troponin Lab Tests – Assays Subject to Biotin Interference, para notificar o público sobre os ensaios de troponina onde o risco de interferência da biotina ainda não tinha sido abordado.
A FDA estava particularmente preocupada com a interferência da biotina causando um resultado falsamente baixo para a troponina, um biomarcador clinicamente importante para ajuda no diagnóstico de ataques cardíacos, o que poderia levar a um diagnóstico errado e implicações clínicas potencialmente graves e irreversíveis.
A FDA continua a monitorar os relatórios de eventos adversos associados à interferência da biotina em testes laboratoriais e atualizará o público se novas informações significativas estiverem disponíveis.
Provavelmente, acerca da interferência da biotina em resultados de exames laboratoriais não será um cenário que mudara tão cedo, devido à sua não toxicidade e sua biodisponibilidade, somados ao estímulo desenfreado pelas propagandas que fazem com que seu consumo seja cada vez mais crescente, assim como a preocupação entre as autoridades internacionais e indústrias da saúde.
É necessário tanto a continua conscientização do público em geral, como de profissionais da saúde, que devem estar cientes da interferência da biotina nos resultados de exames, para que possam orientar seus pacientes a interromper a ingestão da biotina pelo menos 48h antes do teste, de acordo com as diretrizes emitidas por muitos serviços de saúde, como a FDA. Assim como o pessoal do laboratório que deve ser treinado para processar amostras com biotina elevada plausível, selecionando as ferramentas analíticas corretas.
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