Celular e alimentação: seus impactos na saúde

Yasmin Abdala Hedjazi

Aluna da pós-graduação de Nutrição Estética e Saúde da Mulher e Clínica Integrativa Funcional

@yhedjazi.nutri

A globalização tem promovido, ao logo das últimas décadas, grandes mudanças em nosso padrão alimentar. Soma-se a este contexto um aumento significativo do uso de celulares, o que vem impactando de forma negativa a adoção de uma alimentação balanceada. 

O smartphone é hoje um dos principais meios de tecnologia e é amplamente utilizado no mundo devido aos seus inúmeros benefícios para a sociedade, por ser um meio de comunicação extremamente rápido e por sua alta capacidade de interação e compartilhamento de conteúdo. 

No entanto, algumas desvantagens vêm sendo experimentadas, dentre elas o isolamento social, comportamentos viciosos e interferências no comportamento alimentar. Isso porque o uso de celulares envolve a utilização das mãos, ato necessário também para comer. Além disso, observa-se que o uso de telas é uma experiência complexa, caracterizando-se pela presença de inúmeros meios de comunicação e atividades de forma simultânea e consequente uso da atenção em diferentes níveis e concomitantemente, resultando em uma forma de comer distraída ou sem atenção.

Estudos acerca do assunto

Alguns estudos realizados no Brasil com crianças e adolescentes demonstraram a associação entre o tempo passado em frente às telas a inúmeros problemas de saúde, incluindo hipertensão arterial, síndrome metabólica e sobrepeso.

Um longo período de tempo em frente a telas como celulares está também associado a um baixo consumo de frutas e vegetais e ao consumo em excesso de alimentos mais calóricos e palatáveis, como aqueles ricos em açúcar, gordura e sódio. Outros estudos também demonstraram uma associação a distúrbios alimentares. 

Homem gordo triste encontra-se no sofá e assiste tv Foto gratuita

Já é sabido que o problema da obesidade vem sido atribuído, em grande parte, a uma alimentação desbalanceada, a qual oferece uma enorme variedade de alimentos palatáveis, calóricos e preparados para serem consumidos de forma rápida e prática. Além do mais, o estilo de vida das pessoas tem mudado nas últimas décadas, com uma crescente necessidade de realizar várias tarefas ao mesmo tempo aliada à interação com dispositivos eletrônicos, como os celulares, levando as pessoas a comer enquanto realizam atividades que confundem o foco dos sinais de saciedade e estímulos sensoriais advindos do alimento e sinais gástricos. Sendo assim, o “comer distraído” ou “comer sem atenção” tem sido associado a um crescente aumento do IMC. 

Em roedores, foi descoberto que a distração diminui e retarda o processamento de informações relacionadas ao paladar no córtex cerebral. Em humanos, no entanto, tem sido sugerido que a distração atenua a percepção do paladar devido a uma capacidade de atenção reduzida, levando a um consumo exagerado. 

Outro estudo confirmou que o tempo elevado de tela foi associado a uma maior predisposição ao desenvolvimento de Síndrome Metabólica, sem levar em consideração o nível de atividade física, o padrão alimentar e outras variantes importantes. 

Os comportamentos sedentários como o uso de celulares estão colaborando para o aumento da obesidade entre as crianças americanas. As taxas de obesidade quase dobraram em pessoas de 2 a 19 anos entre o final dos anos 80 e início dos anos 90. Outro estudo concluiu que adolescentes que passam mais tempo em frente às telas têm maior propensão a desenvolver obesidade e síndrome metabólica quando adultos, fatores que elevam o risco de doenças cardiovasculares e AVC. Uma dica dos especialistas é manter os celulares longe do local onde são feitas as refeições e aproveitar estes momentos para preparar refeições com a família, por exemplo. 

A técnica do comer consciente como aliada

Comer enquanto realizamos várias tarefas ao mesmo tempo, tais como trabalhar, assistir à televisão ou dirigir um carro enquanto almoçamos, pode resultar em uma quantidade maior de alimento ingerido, porém sem observar os sinais de saciedade. 

Na ausência da autoconsciência, as pessoas comem sem se atentarem à qualidade e à quantidade de comida que colocam em sua boca. Este fenômeno chama-se comer sem atenção plena ou comer sem consciência, comportamento que pode resultar em inúmeras consequências negativas, sendo a obesidade é uma delas. 

Dentro deste cenário, algumas abordagens têm se mostrado bastante eficazes no que tange aos comportamentos alimentares disfuncionais, como a prática de mindfulness (atenção plena), que caracteriza-se pelo estado de consciência que eleva-se através da atenção ao momento presente, de maneira proposital, sem qualquer tipo de julgamento. 

Tendo em vista as questões relacionadas ao comer e ao alimento, o mindfulness passa a ter uma vertente conhecida como mindful eating ou “comer com atenção plena”, a qual recomenda que façamos nossas escolhas alimentares de forma consciente e observando atentamente os sinais de fome e saciedade que o corpo apresenta e também a toda experiência no momento da refeição, observando sem julgamento as emoções que sentimos antes, durante e depois de comer e também com foco nos sentidos sensoriais com relação à comida, como aroma, textura, sabor e temperatura. 

Alguns princípios do mindful eating que podem ser facilmente aplicados e exercitados em nossa rotina alimentar são: Saborear o alimento, observando atentamente a textura e o som que o alimento emite através da mastigação; observar o que estamos sentindo antes de entrar em contato com o alimento, como os sinais de fome física e emocional (barriga roncando, falta de energia, estresse); não julgar, ou seja, evitar frases como “não deveria” ou se prender a regras rígidas de dieta; estar totalmente presente. Evitar realizar várias tarefas ao mesmo tempo e se desligar das distrações, deixando o celular, televisão, computador, livros etc. para outro momento e realmente aproveitar a refeição.

Quer saber mais sobre o assunto? Acesse:

Artigo 1

Artigo 2

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