Os efeitos do consumo de cacau no estresse oxidativo

Luciane Morisue Kodama

Aluna da pós-graduação na Plenitude Educação

@lucianemorisuenutricionista

Estresse oxidativo é definido pelo desequilíbrio entre agentes oxidantes e antioxidantes, com preponderância do primeiro, e consequente acréscimo na formação de radicais livres e na capacidade de gerar danos ao DNA (ácido desoxirribonucleico), às membranas lipídicas e às proteínas. Contribui para diversas patologias e doenças, como câncer, distúrbios neurológicos, aterosclerose, hipertensão, isquemia, diabetes, fibrose pulmonar idiopática, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e asma, além de ser considerado como principal fator na disfunção endotelial e da ruptura de placa aterosclerótica.

Os mecanismos antioxidantes podem ser enzimáticos ou não enzimáticos. O sistema enzimático abrange as enzimas superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa redutase (GR) e glutationa peroxidade (GPX). Por outro lado, o sistema não enzimático possui as moléculas: glutationa reduzida (GSH), FRAP (Ferric Reducing Antioxidant), ácido úrico, vitamina C (ácido ascórbico), vitamina E (alfa tocoferol), vitamina A (retinol), carotenóides, zinco, selênio e flavonóides.

Devido o teor de seus flavonoides, o cacau foi considerado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como alimento funcional5. De acordo com a portaria nº 398 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde brasileiro, de 1999, é definido como alimento funcional todos os alimentos ou ingredientes que geram efeitos positivos para a saúde, com segurança, mesmo sem prescrição médica.

Os polifenóis também são conhecidos como compostos fenólicos, e constituem um grupo de compostos encontrados em frutas, vegetais, flores e sementes. Estudos recentes mostram que os polifenóis encontrados nas sementes de cacau, assim como no chocolate, trazem efeitos benéficos à saúde

Os flavonóides fazem parte do grupo dos polifenóis. Existem 14 classes diferenciadas de flavonoides, mas a maior parte se limita a somente seis classes: flavonas, flavanonas, flavonois, flavanol (ou flavan-3-ois), isoflavonas e as antocianinas. Entre estas classes, os flavonóis são as mais numerosas, sendo a (+)-catequina e a (–)-epicatequina os principais

Os compostos bioativos dos flavonóis presentes no cacau são: proantocianidinas, catequina, epicatequina, galocatequina, epigalocatequina, epicatequina-3-galato, epigalocatequina-3-galato.

O que a ciência mostra?

Diversos estudos mostram a relação entre o consumo de polifenóis presentes no cacau e a redução do risco de doença cardiovascular, por atuarem na diminuição da geração de radicais livres, consequentemente do estresse oxidativo, na diminuição da inflamação e com melhora da saúde vascular pela promoção no aumento da biodisponibilidade do ON

Em um estudo avaliando o consumo de cacau, a ingestão aguda, subcrônica (duas semanas) e crônica (três meses) de cacau reduziu o estresse oxidativo induzido pelo exercício, reduziu o aumento da pressão arterial induzido pelo exercício em pacientes obesos, alterou o metabolismo da gordura e do carboidrato durante o exercício e melhorou a eficiência mitocondrial em indivíduos não treinados.

Em outro estudo com o objetivo de analisar o efeito dos polifenóis do cacau na ativação da isoforma 2 da NADPH (Fosfato de dinucleótido de nicotinamida e adenina) oxidase, no estresse oxidativo e na apoptose de hepatócitos, em uma população afetada pela esteatose hepática não alcoólica, mostrou que, em comparação com o grupo controle, os pacientes com esteatose apresentaram maiores níveis de sNOX2-dp (Soluble NOX2-derived peptide), isoprostanos séricos e CK-18 (Cytokeratin-18). Uma diferença significativa para os tratamentos foi encontrada em indivíduos com relação a sNOX2-dp, isoprostanos séricos e CK-18 sérica. As comparações mostraram que, comparados ao valor basal, após 14 dias de ingestão de chocolate amargo, foi encontrada uma redução significativa no sROX2-dp (Soluble NOX2-derived peptide) soro isoprostanos e CK-18 M30.

Em um estudo foi realizada uma intervenção em indivíduos saudáveis com ChA, utilizando 45g por dia, durante um período de duas semanas, e os pesquisadores constataram uma melhora na circulação coronariana, dos lipídios séricos e do estresse oxidativo.

Um estudo realizado in vitro, com extrato de cacau com elevado conteúdo de flavonóides (obtido do licor do cacau) evidenciou que as catequinas, epicatequinas, quercetina, quercetina-3-glicosídeo, quercetina3-arabinosídeo e dideoxiclovamida apresentaram efeitos antioxidantes.

Outro estudo in vitro demonstrou uma alta atividade antioxidante das procianidinas presentes no cacau, atuando na fase de prevenção (indução) e na fase de propagação da peroxidação de lipídios.

Alguns estudos feitos em humanos mostraram que as catequinas presentes no cacau, foram capazes de aumentar a atividade antioxidante, diminuir o malonaldeído e peróxido lipídico plasmático, aumentar os níveis séricos de ascorbato, aumentar a absorção de ferro não-heme e aumentar a resistência do LDL-c à oxidação.

Em um estudo in vitro, foram analisadas as concentrações de polifenois e a capacidade antioxidante, através do método de sequestro do radical 1,1-difenil-2-picrilhidrazil de chocolate amargo, meio amargo, ao leite e de soja. Os resultados evidenciaram maior quantidade de polifenois no chocolate amargo e menor no chocolate ao leite. O chocolate à base de soja (rico em isoflavonas) mostrou atividade antioxidante considerável, podendo ser usado como substituto do chocolate amargo.

Considerações finais

Os dados obtidos neste trabalho mostram que o consumo do cacau, numa quantidade média de 45g, de duas a três semanas, é extremamente benéfico contra o estresse oxidativo induzido pelo exercício, e também em indivíduos não treinados. 

Mostram também a redução do aumento da pressão arterial induzido pelo exercício em pacientes obesos, alteração do metabolismo da gordura e do carboidrato durante o exercício, melhora da eficiência mitocondrial em indivíduos não treinados.

Evidencia uma melhora na circulação coronariana, dos lipídios séricos, aumento dos níveis séricos de ascorbato, absorção de ferro não-heme.

Quer saber mais sobre o assunto? Acesse:

Artigo 1

Artigo 2

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