Sarcopenia no envelhecimento

A sarcopenia é definida como perda progressiva de força, massa muscular e desempenho. Podemos classificar em primária, que ocorre decorrente ao envelhecimento, e secundária, devido aos fatores multifatoriais, como: sedentarismo, dieta abaixo do ideal, doenças crônicas, certos tratamentos farmacológicos, ou repouso por longos períodos, como os acamados, por exemplo.

A perda da massa muscular pode ser considerada um processo normal do envelhecimento, mas a sarcopenia não. Ela pode trazer inúmeros malefícios à saúde, como: incapacidade funcional, fragilidade, aumento no risco de quedas, redução da qualidade de vida, dependência de cuidadores e, como consequência, elevar os custos de hospitalizações e do Sistema de Saúde.

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A prevalência varia de acordo com a idade, acometendo 13-24% dos indivíduos, entre 65-70 anos, e mais de 50% na população acima de 80 anos, principalmente idosos do sexo masculino.

Em 2018, houve uma nova atualização do consenso (EWGSOP2), com nova nomenclatura, dividida em: risco de sarcopenia, provável sarcopenia, sarcopenia e sarcopenia grave. O questionário SARC-F (Figura 1) é utilizado para identificar o risco de sarcopenia. A provável sarcopenia é identificada com força muscular diminuída. O diagnóstico é confirmado quando há uma qualidade ou quantidade muscular reduzida e, por fim, quando há uma soma dos critérios acima, agregado ao baixo desempenho físico, a sarcopenia é classificada como grave. Indivíduos que têm a somatória igual ou superior a 4 desse questionário, são classificados como risco de sarcopenia.

Componentes

Perguntas

Pontuação

Força Qual a sua dificuldade em levantar ou carregar 4kg? Nenhuma = 0

Alguma = 1

Muita ou incapaz = 2

Assistência ao caminhar Qual é a sua dificuldade em caminhar através de um quarto? Nenhuma = 0

Alguma = 1

Muito, com ajuda ou incapaz = 2

Levantar da cadeira Qual é a sua dificuldade em sair da cama ou da cadeira? Nenhuma = 0

Alguma = 1

Muito ou incapaz sem ajuda = 2

Subir escadas Qual é a sua dificuldade em subir 10 degraus? Nenhuma = 0 

Alguma = 1

Muito ou incapaz = 2

Quedas Quantas vezes você caiu no último ano? Nenhuma = 0

1 a 3 quedas = 2

4 ou mais quedas = 2

Figura 1 – Questionário SARC-F.

 

Proteínas

Observa-se que a população idosa apresenta inadequações nutricionais. Em sua maioria, apresentam déficits na ingestão calórica, proteica, de vitaminas e nminerais. Estudos afirmam que 15% dos indivíduos, com mais de 60 anos, consomem menos que 75% das suas necessidades diárias de proteínas e essa ingestão inadequada é um problema para o desenvolvimento da sarcopenia.

Recentemente, dois estudos de consenso (ESPEN) e o grupo de estudo PROT-AGE afirmaram que a tradicional RDA de proteínas para adultos (0,8g/kg de peso) não era eficaz para pessoas mais velhas. Indivíduos acima de 65 anos ou mais precisam de uma quantidade maior para ativar a síntese de proteínas musculares, em comparação aos jovens.  No entanto, eles precisam de mais proteínas para compensar as condições inflamatórias e catabólicas associadas às doenças crônicas. Tanto a ESPEN, quanto o grupo de estudo PROT-AGE, sugere de 1,0 – 1,2g/kg de peso de proteínas, para idosos saudáveis, como mostra na Figura 2, porém, indivíduos com problemas renais, que não estejam em diálise, devem limitar sua ingestão a 0,8g/kg de peso.

 

Perfil do Idoso Quantidade de proteína recomendada
Idosos praticantes de exercício físico 1,0 a 1,2 g/Kg/dia
Idosos com doenças crônicas 1,2 a 1,5 g/kg/dia
Idosos com doenças graves ou desnutridos 2 g/kg/peso

Figura 2 – Recomendação Proteica dos Idosos. Foto adaptada: BAUER et al. 201316.

 

A relação dos aminoácidos na prevenção e tratamento da sarcopenia

Os aminoácidos essenciais, em particular a leucina, são estímulos anabólicos marcantes. A leucina é um farmaconutriente na prevenção e tratamento de quadros clínicos, como a sarcopenia nos idosos. Suas fontes alimentares são: carnes magras, feijão, lentilha e laticínios. A suplementação com proteínas em pó ou aminoácidos essenciais (10-15g) e leucina (mínimo 3g) pode auxiliar na superação da resistência anabólica nos indivíduos mais velhos. Principalmente se estiver associada com exercícios físicos regulares. Isso auxiliaria na promoção do ganho de massa e força muscular, além de melhorar o desempenho físico em idosos

A suplementação de Creatina em indivíduos sarcopênicos

A creatina tem um efeito neuroprotetor e auxilia na melhora da sarcopenia. Uma intervenção nutricional mostrou eficácia na suplementação e um papel anti-sarcopênico. Noventa e cinco por cento (95%) da creatina é armazenada no músculo esquelético, enquanto o restante é encontrado no cérebro, fígado, rins e testículo. Suas principais fontes alimentares são carnes, peixes (frutos do mar) e aves e, em pequenas quantidades, nas plantas

A maior parte da creatina intramuscular é encontrada nas fibras musculares tipo II, porém, com o passar do tempo, as fibras vão diminuindo na quantidade e no tamanho e há uma ingestão alimentar diminuída, na qual a suplementação torna-se necessária.

Foram realizadas três meta-análises que mostraram maior efeito da suplementação de creatina durante o treinamento de resistência, e resultou em maiores ganhos de massa muscular, força nos membros superiores e inferiores, e no desempenho físico, em uma amostra contendo mais de 1000 indivíduos, com idade acima de 45 anos.

A suplementação deve ocorrer de forma contínua, ou seja, mesmo nos dias sem treino, de 3 – 5g/dia, para auxiliar no ganho de massa muscular. Além da suplementação, vale ressaltar a importância da hidratação estar adequada (30 – 40 mL/Kg de peso. 

A sarcopenia quando presente e não tratada, implica no aumento de comorbidades clínicas, dentre as quais fazem parte, o aumento das taxas infecciosas, na redução da capacidade funcional, no balanço nitrogenado negativo e aumento da mortalidade.

Ao envelhecer, surgem diversas alterações hormonais, tanto no sexo masculino quanto no sexo feminino, e vários estudos confirmam o efeito positivo da ingestão adequada de proteínas e suplementação de creatina, aliada aos exercícios físicos frequentes e à hidratação adequada, para aumento de massa magra. Essas medidas são efetivas na prevenção e tratamento dessa condição clínica.

Quer saber mais sobre o assunto? Acesse:

Artigo 1

Artigo 2

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